Muito além da estética, os procedimentos faciais têm se consolidado como instrumentos de expressão e afirmação de identidade. Para pessoas trans e não binárias, intervenções como a harmonização facial, rinomodelação, preenchimento de mandíbula ou lábios e até cirurgias mais complexas vêm ganhando um novo significado: não apenas o de transformar traços, mas de alinhar o rosto com a identidade de gênero sentida e vivida.
A busca por essas transformações vai além de um padrão de beleza. Em muitos casos, trata-se de um processo profundamente emocional e libertador. A médica dermatologista e especialista em cosmiatria Dra. Letícia Nanci, que atende pacientes trans em seu consultório, afirma que a estética pode ser uma aliada poderosa quando conduzida com ética e escuta. “Não estamos falando de vaidade, mas de reconhecimento. Quando o espelho começa a refletir quem a pessoa sente que é, a autoestima e a saúde mental ganham força. É um cuidado que transforma vidas”, explica.
Os procedimentos minimamente invasivos oferecem resultados rápidos e menos traumáticos, sendo, muitas vezes, o primeiro passo no caminho da afirmação de gênero. Em homens trans, por exemplo, o preenchimento da mandíbula e mento pode reforçar traços mais angulosos. Já em mulheres trans, o foco costuma estar em suavizar a face, projetar os lábios ou definir a maçã do rosto. Há também casos de pessoas não binárias que buscam neutralizar aspectos associados ao masculino ou feminino, construindo uma estética própria e singular.
Essa demanda crescente tem impulsionado clínicas e profissionais a se especializarem no atendimento inclusivo e humanizado. O acolhimento, o respeito ao nome social, a escuta ativa e o entendimento das particularidades hormonais são pilares essenciais para um atendimento ético e transformador. “O procedimento estético é só uma parte da jornada. O cuidado começa no modo como essa pessoa é recebida e validada em sua identidade”, reforça a Dra. Letícia.
Apesar dos avanços, ainda há desafios. O acesso aos procedimentos estéticos muitas vezes esbarra em questões econômicas ou no preconceito de parte da sociedade e do próprio sistema de saúde. Iniciativas públicas e projetos sociais vêm surgindo para atender essa demanda de forma mais acessível, mas ainda de forma pontual.
À medida que o debate sobre identidade de gênero ganha visibilidade, cresce também o entendimento de que a estética pode ser uma aliada poderosa na construção do bem-estar. Procedimentos faciais, quando feitos com responsabilidade e sensibilidade, não são apenas sobre aparência são, sobretudo, sobre pertencimento.
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