O final da gestação costuma ser cercado por uma mistura de ansiedade e expectativa. À medida que o nascimento se aproxima, é natural que as mães estejam mais atentas a cada movimento do bebê. No entanto, em alguns casos, relatos de paradas cardíacas fetais nas últimas semanas causam apreensão e levantam dúvidas: por que o coração de um bebê, que parecia saudável, pode parar de repente ainda dentro do útero?
Embora raro, esse tipo de ocorrência é uma realidade que médicos e famílias enfrentam, e pode ter diferentes causas. Uma das mais frequentes está relacionada à função da placenta. Esse órgão vital para a gestação pode sofrer alterações ao longo do tempo, como o envelhecimento precoce ou a formação de pequenos coágulos que dificultam a oxigenação do bebê. Quando a placenta deixa de funcionar adequadamente, o feto pode entrar em sofrimento, e o coração, já sensível a variações no suprimento de oxigênio, pode parar.
Outro fator que preocupa os especialistas é o cordão umbilical. Em algumas situações, ele pode se enrolar no pescoço do bebê ou se comprimir de maneira súbita, especialmente durante movimentações mais intensas nas últimas semanas. Isso pode interromper o fluxo sanguíneo e levar a uma parada cardíaca em questão de minutos.
Infecções silenciosas também entram na lista de possíveis causas. Algumas doenças infecciosas podem atravessar a barreira placentária sem apresentar sintomas claros na gestante, afetando diretamente o sistema cardiovascular do bebê. Além disso, distúrbios de coagulação, como trombofilias, são condições que aumentam o risco de complicações vasculares, inclusive na placenta, e muitas vezes só são descobertas após um evento grave.
Há ainda os casos de malformações cardíacas que não foram detectadas nos exames de rotina. Apesar do avanço das tecnologias de imagem, algumas alterações só se tornam evidentes em momentos críticos ou podem ser subestimadas ao longo do pré-natal.
“Mesmo com todos os cuidados, infelizmente ainda enfrentamos casos em que o bebê para de se movimentar ou o batimento cardíaco desaparece repentinamente. Por isso, o acompanhamento médico nas últimas semanas precisa ser ainda mais atento, especialmente quando há fatores de risco”, explica a dra. Patrícia Monteiro, ginecologista e obstetra com atuação em medicina fetal.
Segundo a médica, sinais como redução dos movimentos fetais, dores incomuns ou desconfortos persistentes devem ser relatados imediatamente. “Em muitos casos, uma avaliação rápida permite a antecipação do parto e salva a vida do bebê.”
A medicina materno-fetal tem evoluído constantemente, e com ela, as chances de identificar precocemente riscos também aumentam. Ainda assim, o tema segue como um dos mais sensíveis da obstetrícia, exigindo não apenas atenção técnica, mas também acolhimento humano às famílias que enfrentam esse tipo de perda.
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