Quem já tomou um remédio recomendado por um amigo ou familiar e teve uma reação completamente diferente sabe na prática: o que funciona para um, pode não funcionar para outro. Essa variação na resposta aos medicamentos é mais comum do que se imagina e tem explicações profundas na genética, na fisiologia e até no estilo de vida de cada indivíduo.
A medicina sempre buscou fórmulas que servissem para todos, mas a ciência vem mostrando que essa abordagem única muitas vezes é limitada. O corpo humano é complexo, e cada pessoa carrega características que podem interferir diretamente na forma como um fármaco será absorvido, distribuído, metabolizado e eliminado. É por isso que, mesmo com a mesma dose e o mesmo princípio ativo, duas pessoas podem ter efeitos completamente distintos.
Um dos principais fatores que influenciam essa diferença é a genética. Algumas pessoas possuem variantes em genes que codificam enzimas responsáveis pelo metabolismo dos medicamentos. Essas variações podem fazer com que certos indivíduos processem um remédio de forma muito rápida reduzindo sua eficácia ou muito lentamente, o que pode aumentar o risco de efeitos colaterais. A farmacogenética, área da ciência que estuda essa relação entre genes e medicamentos, vem crescendo e promete personalizar os tratamentos com base no DNA do paciente.
Mas não é só o código genético que interfere. O estado geral de saúde, a presença de outras doenças, a alimentação, o uso simultâneo de outros remédios, o consumo de álcool, tabaco e até a microbiota intestinal também podem influenciar a resposta a um medicamento. Uma pessoa com problemas no fígado ou nos rins, por exemplo, pode eliminar o fármaco mais lentamente, exigindo ajustes na dose. Já alguém que consome alimentos ricos em certas substâncias pode ter interações que potencializam ou reduzem os efeitos esperados.
Outro ponto que muitas vezes passa despercebido é o fator psicológico. A expectativa em relação ao tratamento, o nível de estresse e até o ambiente em que o remédio é tomado podem alterar a percepção de seus efeitos. O famoso “efeito placebo” é um exemplo claro de como mente e corpo estão profundamente conectados.
Essa complexidade vem impulsionando o desenvolvimento da chamada medicina personalizada, que leva em conta as características individuais para indicar o melhor tratamento. Embora ainda não seja uma realidade acessível para todos, principalmente no sistema público de saúde, já é possível encontrar testes genéticos que ajudam médicos a prever quais medicamentos são mais indicados para determinados perfis.
A mensagem principal é clara: automedicar-se, baseando-se na experiência de outra pessoa, pode ser arriscado. O ideal é sempre consultar um profissional da saúde, que poderá avaliar o histórico clínico, os exames e as condições específicas antes de indicar qualquer remédio. Afinal, em medicina, o que parece simples pode esconder variáveis complexas e o que funciona para um corpo, pode não ser o melhor
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