Ele se apaixonou pela ginecologia ainda na faculdade, movido pelo fascínio de compreender como a vida começa. O encantamento cresceu na prática, ganhou profundidade na residência médica e encontrou propósito definitivo na reprodução assistida, área que une ciência, sensibilidade e uma escuta ativa que ele cultiva com rigor e empatia.
Nesta entrevista à Revista Pulsar, o Dr. Vinícius Bassega compartilha momentos decisivos da carreira, reflexões sobre o futuro da medicina reprodutiva e o impacto real que o acolhimento pode ter na jornada de quem sonha em formar uma família. Confira:
Dr. Vinícius, o que o levou a escolher a Ginecologia & Obstetrícia (GO) , mais especificamente, a área da reprodução assistida? Houve algum momento marcante que confirmou essa escolha?
Eu me lembro na faculdade, quando tive o primeiro contato com a disciplina de Ginecologia & Obstetrícia, o quanto fiquei fascinado e quanto mais estudava só me despertava mais interesse sobre esta área da medicina.
Sempre achei mágico o início da vida e entender como tudo isso acontece
Quando chegou o internato (5o e 6o ano — quando iniciam os plantões), eu de fato comecei a ter toda essa vivência prática da GO. Foi aí que tive certeza que era esse o caminho que gostaria de seguir dentro da medicina.
Prestei a prova de residência médica assim que finalizei o 6o ano de medicina (aos 23 anos). Passei direto e iniciei a residência médica em GO. Durante estes 3 anos, tudo só se confirmou, eu realmente queria seguir essa área pro resto da minha vida.
Mas, algumas coisas me tocaram e chamaram a atenção neste período de especialização.
Eu ficava comovido quando via casos de pacientes que estavam tentando engravidar há um tempo e não tinham conseguido; além disso, os casos de pacientes com perdas gestacionais de repetição.
Eu queria entender: o que acontece nestes casos? Como eu poderia ajudar? Qual a subespecialidade estuda isso,pra que eu possa entender mais? Foi aí que eu descobri e me encantei pela Medicina Reprodutiva (Reprodução Assistida).
Quais são seus maiores aprendizados até aqui na medicina e o que ainda te inspira todos os dias dentro do consultório?
Poder olhar para cada caso de forma individualizada e poder ajudar as pessoas é algo que me inspira e dá forças pra acordar todos os dias e exercer a minha profissão.
Os maiores aprendizados:
Tem que realmente amar a profissão e saber escolher a sua área sabendo que será feliz fazendo isso todos os dias.
É preciso evoluir cada vez mais, nunca parar de estudar e se atualizar, sempre.Mas ser bom tecnicamente não é o suficiente. Ser médico pede empatia … amor ao próximo.
Você tem algum sonho ou projeto pessoal que ainda deseja realizar dentro da área da saúde ou fora dela?
Acho que meu projeto é sempre buscar ser uma pessoa e profissional melhor, pra que isso possa refletir da forma mais positiva possível na vida dos meus pacientes.
O congelamento de óvulos tem ganhado destaque entre mulheres que desejam adiar a maternidade. Qual é sua visão sobre esse movimento e quais orientações costuma passar às pacientes?
Eu vejo o congelamento de óvulos como um movimento de extrema importância para as mulheres.
É algo que veio para revolucionar, trazer mais liberdade pra todas, possibilitando se dedicar ao trabalho e conquistar o seu espaço no mercado de trabalho sem ter a sensação de que em algum momento da vida ela teria que escolher entre vida profissional ou trabalho.
Isso possibilita adiar a maternidade, dá a liberdade desta mulher escolher o momento que julga ser oportuno para vivenciar a maternidade.
A minha orientação é que:
Todas as mulheres entre 30 e 35 anos de idade que pretendem postergar a maternidade procurem um médico especialista nesta área para receber as orientações devidas.
Casais LGBTQIAPN+ também têm buscado a fertilização in vitro como alternativa para formar uma família. O que mudou na prática médica para acolher essa demanda com ética e sensibilidade?
Fico feliz em ver cada vez mais famílias coloridas se formando.
Somente quem faz parte da comunidade LGTBQIAPN+ entende o quanto procuramos saber se seremos tratados com respeito e sem discriminação … e isso também inclui o momento que procuramos um atendimento médico.
Por fazer parte desta comunidade, sempre quis trazer esse olhar empático e acolhedor, deixando claro que não há preconceito e discriminação … e que estou aqui exatamente pra auxiliar que cada vez mais famílias LGBQTIAPN+ existam.
Sobre as mudanças, vejo que as diretrizes médicas nos últimos anos mudaram visando dar um atendimento digno e garantindo o direito reprodutivo de pessoas LGTBQIAPN+.
Além disso, felizmente na atualidade temos mais profissionais que se importam em prestar uma boa assistência para este público.
Quando o assunto é fertilidade masculina, quais são os mitos que mais precisam ser desmistificados? E até que ponto a idade do homem impacta no sucesso de uma FIV?
Os principais mitos que precisamos desmitificar:
A infertilidade está sempre relacionada a um fator feminino. FALSO
Sabemos que aproximadamente 30% dos casos de infertilidade ocorrem por um fator masculino.
Se um homem já teve filhos antes, ele não pode ser infértil. FALSO
Infelizmente, um homem que já teve um ou mais filhos, pode no futuro ter problemas de fertilidade relacionados à idade, à saúde e a outros fatores.
Sabemos que o avançar da idade reprodutiva impacta de forma negativa na saúde reprodutiva. As mulheres terão uma diminuição da qualidade e quantidade dos óvulos, após os 35 anos de idade.
Já em relação aos homens, alguns estudos mostram que ocorre um declínio mais importante da fertilidade masculina após os 50 anos, ou seja, os parâmetros seminais e resultados reprodutivos serão afetados.
Foto: @leboarding
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